segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
domingo, 11 de dezembro de 2016
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
domingo, 4 de dezembro de 2016
sábado, 3 de dezembro de 2016
Peço ao Metrô de São Paulo que reserve 24 horas as duas primeiras portas do primeiro vagão a quem necessita realmente, com os bancos da primeira e segunda portas de cor designativa de reserva prioritárias. Assim, não precisará funcionários monitorando, e quem entrar e sentar sem ter direito, poderá ser retirado por qualquer cidadão ou funcionário. Devemos fazer valer nossa cidadania.
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Carta Apostólica do Papa Francisco "Misericordia et Misera".
CARTA APOSTÓLICA MISERICORDIA ET MISERA do Santo Padre FRANCISCO
MISERICÓRDIA E MÍSERA (misericordia et misera) são as duas
palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a
adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Não podia encontrar expressão mais bela e coerente
do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao
encontro do pecador: «Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia».[1]
Quanta piedade e justiça divina nesta narração! O seu ensinamento, ao mesmo
tempo que ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, indica
o caminho que somos chamados a percorrer no futuro.
1. Esta página do
Evangelho pode, com justa razão, ser considerada como ícone de tudo o que
celebramos no Ano Santo, um tempo rico em misericórdia, a qual pede para
continuar a ser celebrada e vivida nas nossas comunidades. Com efeito, a
misericórdia não se pode reduzir a um parêntese na vida da Igreja, mas
constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade
profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no
amor misericordioso do Pai.
Encontraram-se uma mulher e Jesus: ela, adúltera e – segundo a
Lei – julgada passível de lapidação; Ele que, com a sua pregação e o dom total
de Si mesmo que O levará até à cruz, reconduziu a lei mosaica ao seu intento
originário genuíno. No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de
Deus, que sabe ler no coração de cada pessoa incluindo o seu desejo mais oculto
e que deve ter a primazia sobre tudo. Entretanto, nesta narração evangélica,
não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador.
Jesus fixou nos olhos aquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo
de ser compreendida, perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida
pela misericórdia do amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse
repassado de piedade e compaixão pela condição da pecadora. A quem pretendia
julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um longo silêncio, cujo
intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas
dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora um a
um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: «Mulher, onde estão
eles? Ninguém te condenou? (...) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em
diante não tornes a pecar» (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o
futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se
quiser, poderá «proceder no amor» (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da
misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal
condição é dominada pelo amor que consente de olhar mais além e viver de
maneira diferente.
2. Aliás Jesus
ensinara-o claramente quando, em casa dum fariseu que O convidara para almoçar,
se aproximou d’Ele uma mulher conhecida por todos como pecadora (cf. Lc 7,
36-50). Esta ungira com perfume os pés de Jesus, banhara-os com as suas
lágrimas e enxugara-os com os seus cabelos (cf. 7, 37-38). À reação
escandalizada do fariseu, Jesus retorquiu: «São perdoados os seus muitos
pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa, pouco ama» (7,
47).
O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis
revelar em toda a sua vida. Não há página do Evangelho que possa ser subtraída
a este imperativo do amor que chega até ao perdão. Até nos últimos momentos da
sua existência terrena, ao ser pregado na cruz, Jesus tem palavras de perdão:
«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de
Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. É por este motivo que nenhum de nós
pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre um ato de gratuidade
do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido. Por isso, não podemos
correr o risco de nos opor à plena liberdade do amor com que Deus entra na vida
de cada pessoa.
A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando,
transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus
é misericordioso (cf. Ex 34, 6), a sua misericórdia é eterna (cf. Sal 136/135),
de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a,
dando-lhe a sua própria vida.
3. Quanta alegria
brotou no coração destas duas mulheres: a adúltera e a pecadora! O perdão
fê-las sentirem-se, finalmente, livres e felizes como nunca antes. As lágrimas
da vergonha e do sofrimento transformaram-se no sorriso de quem sabe que é
amado. A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança
duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós
sempre que a experimentamos. Na sua origem, está o amor com que Deus vem ao
nosso encontro, rompendo o círculo de egoísmo que nos envolve, para fazer
também de nós instrumentos de misericórdia.
Como são significativas, também para nós, estas palavras antigas
que guiavam os primeiros cristãos: «Reveste-te de alegria, que é sempre
agradável a Deus e por Ele bem acolhida. Todo o homem alegre trabalha bem,
pensa bem e despreza a tristeza. (...) Viverão em Deus todas as pessoas que
afastam a tristeza e se revestem de toda a alegria».[2] Experimentar a
misericórdia dá alegria; não no-la deixemos roubar pelas várias aflições e
preocupações. Que ela permaneça bem enraizada no nosso coração e sempre nos
faça olhar com serenidade a vida do dia-a-dia.
Numa cultura frequentemente dominada pela tecnologia, parecem
multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas,
incluindo muitos jovens. Com efeito, o futuro parece estar refém da incerteza,
que não permite ter estabilidade. É assim que muitas vezes surgem sentimentos
de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a pouco, levar ao desespero.
Há necessidade de testemunhas de esperança e de alegria verdadeira, para
expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos
artificiais. O vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido pela esperança
que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta necessidade de
reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela misericórdia! Por
isso guardemos como um tesouro estas palavras do Apóstolo: «Alegrai-vos sempre
no Senhor!» (Flp 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16).
4. Celebramos um
Ano intenso, durante o qual nos foi concedida, em abundância, a graça da
misericórdia. Como um vento impetuoso e salutar, a bondade e a misericórdia do
Senhor derramaram-se sobre o mundo inteiro. E perante este olhar amoroso de
Deus, que se fixou de maneira tão prolongada sobre cada um de nós, não se pode
ficar indiferente, porque muda a vida.
Antes de mais nada, sentimos necessidade de agradecer ao Senhor,
dizendo-Lhe: «Vós abençoastes a vossa terra (…). Perdoastes as culpas do vosso
povo» (Sal 85/84, 2.3). Foi mesmo assim: Deus esmagou as nossas culpas e lançou
ao fundo do mar os nossos pecados (cf. Miq 7, 19); já não Se lembra deles,
lançou-os para trás de Si (cf. Is 38, 17); como o Oriente está afastado do
Ocidente, assim os nossos pecados estão longe d’Ele (cf. Sal 103/102, 12).
Neste Ano Santo, a Igreja pôde colocar-se à escuta e experimentou
com grande intensidade a presença e proximidade do Pai, que, por obra do Espírito
Santo, lhe tornou mais evidente o dom e o mandato de Jesus Cristo relativo ao
perdão. Foi realmente uma nova visita do Senhor ao meio de nós. Sentimos o seu
sopro vital efundir-se sobre a Igreja, enquanto, mais uma vez, as suas palavras
indicavam a missão: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os
pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos» (Jo
20, 22-23).
5. Agora,
concluído este Jubileu, é tempo de olhar para diante e compreender como se pode
continuar, com fidelidade, alegria e entusiasmo, a experimentar a riqueza da
misericórdia divina. As nossas comunidades serão capazes de permanecer vivas e
dinâmicas na obra da nova evangelização na medida em que a «conversão
pastoral», que estamos chamados a viver,[3] for plasmada dia após dia pela
força renovadora da misericórdia. Não limitemos a sua ação; não entristeçamos o
Espírito que indica sempre novas sendas a percorrer para levar a todos o
Evangelho da salvação.
Em primeiro lugar, somos chamados a celebrar a misericórdia.
Quanta riqueza está presente na oração da Igreja, quando invoca a Deus como Pai
misericordioso! Na liturgia, não só se evoca repetidamente a misericórdia, mas
é realmente recebida e vivida. Desde o início até ao fim da Celebração Eucarística,
a misericórdia reaparece várias vezes no diálogo entre a assembleia orante e o
coração do Pai, que rejubila quando pode derramar o seu amor misericordioso.
Logo na altura do pedido inicial de perdão com a invocação «Senhor, tende
piedade de nós», somos tranquilizados: «Deus todo-poderoso tenha compaixão de
nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna». É com esta
confiança que a comunidade se reúne na presença do Senhor, especialmente no dia
semanal que recorda a ressurreição. Muitas orações ditas «coletas» procuram
recordar-nos o grande dom da misericórdia. No tempo da Quaresma, por exemplo,
rezamos com estas palavras: «Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a
bondade, que nos fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os
remédios do pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo
que, abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa
misericórdia».[4] Mais adiante, somos introduzidos na Oração Eucarística pelo
Prefácio que proclama: «Na vossa infinita misericórdia, de tal modo amastes o
mundo que nos enviastes Jesus Cristo, nosso Salvador, em tudo semelhante ao
homem, menos no pecado».[5] Aliás a própria Oração IV é um hino à misericórdia
de Deus: «Na vossa misericórdia, a todos socorrestes, para que todos aqueles
que Vos procuram Vos encontrem».[6] «Tende misericórdia de nós, Senhor»:[7] é a
súplica premente que o sacerdote faz na Oração Eucarística para implorar a
participação na vida eterna. Depois do Pai-Nosso, o sacerdote prolonga a oração
invocando a paz e a libertação do pecado, «ajudados pela vossa misericórdia» e,
antes da saudação da paz que os participantes trocam entre si como expressão de
fraternidade e amor mútuo à luz do perdão recebido, o celebrante reza de novo:
«Não olheis aos nossos pecados, mas à fé da vossa Igreja».[8] Através destas
palavras, pedimos com humilde confiança o dom da unidade e da paz para a Santa
Mãe Igreja. Assim a celebração da misericórdia divina culmina no Sacrifício
Eucarístico, memorial do mistério pascal de Cristo, do qual brota a salvação
para todo o ser humano, a história e o mundo inteiro. Em suma, cada momento da
Celebração Eucarística faz referimento à misericórdia de Deus.
Mas, em toda a vida sacramental, é-nos dada com abundância a
misericórdia. Realmente é significativo que a Igreja tenha querido fazer
explicitamente apelo à misericórdia na fórmula dos dois sacramentos chamados
«de cura»: a Reconciliação e a Unção dos Enfermos. Assim reza a fórmula da
absolvição: «Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu
Filho, reconciliou o mundo consigo e infundiu o Espírito para a remissão dos
pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz»;[9] e ao
ungir a pessoa doente: «Por esta santa Unção e pela sua piíssima misericórdia,
o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo».[10] Deste modo, a
referência à misericórdia na oração da Igreja, longe de ser apenas parenética,
é altamente realizadora, ou seja, enquanto a invocamos com fé, é-nos concedida;
enquanto a confessamos viva e real, efetivamente transforma-nos. Este é um
conteúdo fundamental da nossa fé, que devemos conservar em toda a sua
originalidade: ainda antes e acima da revelação do pecado, temos a revelação do
amor com que Deus criou o mundo e os seres humanos. O amor é o primeiro ato com
que Deus Se deu a conhecer e vem ao nosso encontro. Por isso mantenhamos o
coração aberto à confiança de ser amados por Deus. O seu amor sempre nos
precede, acompanha e permanece connosco, não obstante o nosso pecado.
6. Neste
contexto, assume significado particular também a escuta da Palavra de Deus.
Cada domingo, a Palavra de Deus é proclamada na comunidade cristã, para que o
Dia do Senhor seja iluminado pela luz que dimana do mistério pascal.[11] Na
Celebração Eucarística, é como se assistíssemos a um verdadeiro diálogo entre
Deus e o seu povo. Com efeito, na proclamação das Leituras bíblicas, repassa-se
a história da nossa salvação através da obra incessante de misericórdia que é
anunciada. Deus fala-nos ainda hoje como a amigos, «convive» connosco[12]
oferecendo-nos a sua companhia e mostrando-nos a senda da vida. A sua Palavra
faz-se intérprete dos nossos pedidos e preocupações e, simultaneamente,
resposta fecunda para podermos experimentar concretamente a sua proximidade.
Quão grande importância adquire a homilia, onde «a verdade anda de mãos dadas
com a beleza e o bem»,[13] para fazer vibrar o coração dos crentes perante a
grandeza da misericórdia! Recomendo vivamente a preparação da homilia e o
cuidado na sua proclamação. Será tanto mais frutuosa quanto mais o sacerdote
tiver experimentado em si mesmo a bondade misericordiosa do Senhor. Comunicar a
certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de
credibilidade do próprio sacerdócio. Por conseguinte, viver a misericórdia é a
via mestra para fazê-la tornar-se um verdadeiro anúncio de consolação e
conversão na vida pastoral. A homilia, como também a catequese, precisam de ser
sempre sustentadas por este coração pulsante da vida cristã.
7. A Bíblia é a
grande narração que relata as maravilhas da misericórdia de Deus. Nela, cada
página está imbuída do amor do Pai, que, desde a criação, quis imprimir no universo
os sinais de seu amor. O Espírito Santo, através das palavras dos profetas e
dos escritos sapienciais, moldou a história de Israel no reconhecimento da
ternura e proximidade de Deus, não obstante a infidelidade do povo. A vida de
Jesus e a sua pregação marcam, de forma determinante, a história da comunidade
cristã, que compreendeu a sua missão com base no mandato que Cristo lhe confiou
de ser instrumento permanente da sua misericórdia e do seu perdão (cf. Jo 20,
23). Através da Sagrada Escritura, mantida viva pela fé da Igreja, o Senhor
continua a falar à sua Esposa, indicando-lhe as sendas a percorrer para que o
Evangelho da salvação chegue a todos. É meu vivo desejo que a Palavra de Deus
seja cada vez mais celebrada, conhecida e difundida, para que se possa, através
dela, compreender melhor o mistério de amor que dimana daquela fonte de
misericórdia. Claramente no-lo recorda o Apóstolo: «Toda a Escritura é
inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na
justiça» (2 Tm 3, 16).
Seria conveniente que cada comunidade pudesse, num domingo do Ano
Litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e
aprofundamento da Sagrada Escritura: um domingo dedicado inteiramente à Palavra
de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo
constante de Deus com o seu povo. Não há de faltar a criatividade para
enriquecer o momento com iniciativas que estimulem os crentes a ser
instrumentos vivos de transmissão da Palavra. Entre tais iniciativas, conta-se certamente
uma difusão mais ampla da lectio divina, para que, através da leitura orante do
texto sagrado, a vida espiritual encontre apoio e crescimento. A lectio divina
sobre os temas da misericórdia consentirá de verificar a grande fecundidade que
deriva do texto sagrado, lido à luz de toda a tradição espiritual da Igreja,
que leva necessariamente a gestos e obras concretas de caridade.[14]
8. A celebração
da misericórdia tem lugar, duma forma muito particular, no sacramento da
Reconciliação. Este é o momento em que sentimos o abraço do Pai, que vem ao
nosso encontro para nos restituir a graça de voltarmos a ser seus filhos. Nós
somos pecadores e carregamos connosco o peso da contradição entre o que
quereríamos fazer e aquilo que, ao invés, acabamos concretamente por fazer (cf.
Rm 7, 14-21); mas a graça sempre nos precede e assume o rosto da misericórdia
que se torna eficaz na reconciliação e no perdão. Deus faz-nos compreender o
seu amor imenso precisamente à vista da nossa realidade de pecadores. A graça é
mais forte, e supera qualquer possível resistência, porque o amor tudo vence
(cf. 1 Cor 13, 7).
No sacramento do Perdão, Deus mostra o caminho da conversão a Ele
e convida a experimentar de novo a sua proximidade. É um perdão que pode ser
obtido, começando antes de mais nada a viver a caridade. Assim no-lo recorda o
apóstolo Pedro, quando escreve que «o amor cobre a multidão dos pecados» (1 Ped
4, 8). Só Deus perdoa os pecados, mas também nos pede que estejamos prontos a
perdoar aos outros, como Ele perdoa a nós: «Perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). Como é triste
quando ficamos fechados em nós mesmos, incapazes de perdoar! Prevalecem o
ressentimento, a ira, a vingança, tornando a vida infeliz e frustrando o
jubiloso compromisso pela misericórdia.
9. Uma
experiência de graça que a Igreja viveu, com tanta eficácia, no Ano Jubilar
foi, certamente, o serviço dos Missionários da Misericórdia. A sua ação
pastoral pretendeu tornar evidente que Deus não põe qualquer barreira a quantos
O procuram de coração arrependido, mas vai ao encontro de todos como um Pai.
Recebi muitos testemunhos de alegria pelo renovado encontro com o Senhor no
sacramento da Confissão. Não percamos a oportunidade de viver a fé, inclusive
como experiência da reconciliação. «Reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20): é
o convite que ainda hoje dirige o Apóstolo a cada crente para lhe fazer
descobrir a força do amor que o torna uma «nova criação» (2 Cor 5, 17).
Quero expressar a minha gratidão a todos os Missionários da
Misericórdia pelo valioso serviço oferecido para tornar eficaz a graça do
perdão. Mas este ministério extraordinário não termina com o encerramento da
Porta Santa. De facto desejo que permaneça ainda, até novas ordens, como sinal
concreto de que a graça do Jubileu continua a ser viva e eficaz nas várias
partes do mundo. Será responsabilidade do Conselho Pontifício para a Promoção
da Nova Evangelização seguir, neste período, os Missionários da Misericórdia,
como expressão direta da minha solicitude e proximidade e encontrar as formas
mais coerentes para o exercício deste precioso ministério.
10. Aos sacerdotes, renovo o
convite para se prepararem com grande cuidado para o ministério da Confissão,
que é uma verdadeira missão sacerdotal. Agradeço-vos vivamente pelo vosso
serviço e peço-vos para serdes acolhedores com todos, testemunhas da ternura
paterna não obstante a gravidade do pecado, solícitos em ajudar a refletir
sobre o mal cometido, claros ao apresentar os princípios morais, disponíveis
para acompanhar os fiéis no caminho penitencial respeitando com paciência o seu
passo, clarividentes no discernimento de cada um dos casos, generosos na
concessão do perdão de Deus. Como Jesus, perante a adúltera, optou por
permanecer em silêncio para a salvar da condenação à morte, assim também o
sacerdote no confessionário seja magnânimo de coração, ciente de que cada
penitente lhe recorda a sua própria condição pessoal: pecador mas ministro da
misericórdia.
11. Gostaria que todos nós
meditássemos as palavras do Apóstolo, escritas no final da sua vida, quando
confessa a Timóteo ser o primeiro dos pecadores, mas «justamente por isso
alcancei misericórdia» (1 Tm 1, 16). As suas palavras têm uma força que irrompe
também em nós levando-nos a refletir sobre a nossa existência vendo em ação a
misericórdia de Deus na mudança, conversão e transformação do nosso coração:
«Dou graças Àquele que me conforta, Cristo Jesus Nosso Senhor, por me ter
considerado digno de confiança, pondo-me ao seu serviço, a mim que antes fora
blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia» (1 Tm 1, 12-13).
Por isso lembremos, com paixão pastoral sempre renovada, as
palavras do Apóstolo: «Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por
meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18). Nós,
primeiro, fomos perdoados, tendo em vista este ministério; tornamo-nos
testemunhas em primeira mão da universalidade do perdão. Não há lei nem
preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho que regressa a Ele
reconhecendo que errou, mas decidido a começar de novo. Deter-se apenas na lei
equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina. Há um valor preparatório na
lei (cf. Gal 3, 24), cujo fim é o amor (cf. 1 Tm 1, 5). Mas o cristão é chamado
a viver a novidade do Evangelho, «a lei do Espírito que dá vida em Cristo
Jesus» (Rm 8, 2). Mesmo nos casos mais complexos, onde se é tentado a fazer
prevalecer uma justiça que deriva apenas das normas, deve-se crer na força que brota
da graça divina.
Nós, confessores, temos experiência de muitas conversões que
ocorrem diante dos nossos olhos. Sintamos, portanto, a responsabilidade de
gestos e palavras que possam chegar ao fundo do coração do penitente, para que
descubra a proximidade e a ternura do Pai que perdoa. Não invalidemos estes
momentos com comportamentos que possam contradizer a experiência da
misericórdia que se procura; mas, antes, ajudemos a iluminar o espaço da
consciência pessoal com o amor infinito de Deus (cf. 1 Jo 3, 20).
O sacramento da Reconciliação precisa de voltar a ter o seu lugar
central na vida cristã; para isso requerem-se sacerdotes que ponham a sua vida
ao serviço do «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18), de tal modo que a
ninguém sinceramente arrependido seja impedido de aceder ao amor do Pai que
espera o seu regresso e, ao mesmo tempo, a todos seja oferecida a possibilidade
de experimentar a força libertadora do perdão.
Uma ocasião propícia pode ser a celebração da iniciativa 24 horas
para o Senhor nas proximidades do IV domingo da Quaresma, que goza já de amplo
consenso nas dioceses e continua a ser um forte apelo pastoral para viver
intensamente o sacramento da Confissão.
12. Em virtude desta
exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o
perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do
seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no
pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período
jubilar[15] fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em
contrário. Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave
pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo
afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa
alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se
reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto
no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação.
No Ano do Jubileu, aos fiéis que por variados motivos frequentam
as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, tinha-lhes
concedido receber válida e licitamente a absolvição sacramental dos seus
pecados.[16] Para o bem pastoral destes fiéis e confiando na boa vontade dos
seus sacerdotes para que se possa recuperar, com a ajuda de Deus, a plena
comunhão na Igreja Católica, estabeleço por minha própria decisão de estender
esta faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o
assunto, a fim de que a ninguém falte jamais o sinal sacramental da
reconciliação através do perdão da Igreja.
13. A misericórdia possui
também o rosto da consolação. «Consolai, consolai o meu povo» (Is 40, 1): são
as palavras sinceras que o profeta faz ouvir ainda hoje, para que possa chegar
uma palavra de esperança a quantos estão no sofrimento e na aflição. Nunca
deixemos que nos roubem a esperança que provém da fé no Senhor ressuscitado. É
verdade que muitas vezes somos sujeitos a dura prova, mas não deve jamais
esmorecer a certeza de que o Senhor nos ama. A sua misericórdia expressa-se
também na proximidade, no carinho e no apoio que muitos irmãos e irmãs podem
oferecer quando sobrevêm os dias da tristeza e da aflição. Enxugar as lágrimas
é uma ação concreta que rompe o círculo de solidão onde muitas vezes se fica
encerrado.
Todos precisamos de consolação, porque ninguém está imune do
sofrimento, da tribulação e da incompreensão. Quanta dor pode causar uma palavra
maldosa, fruto da inveja, do ciúme e da ira! Quanto sofrimento provoca a
experiência da traição, da violência e do abandono! Quanta amargura perante a
morte das pessoas queridas! E, todavia, Deus nunca está longe quando se vivem
estes dramas. Uma palavra que anima, um abraço que te faz sentir compreendido,
uma carícia que deixa perceber o amor, uma oração que permite ser mais forte...
são todas expressões da proximidade de Deus através da consolação oferecida
pelos irmãos.
Às vezes, poderá ser de grande ajuda também o silêncio; porque em
certas ocasiões não há palavras para responder às perguntas de quem sofre. Mas,
à falta da palavra, pode suprir a compaixão de quem está presente, próximo, ama
e estende a mão. Não é verdade que o silêncio seja um ato de rendição; pelo
contrário, é um momento de força e de amor. O próprio silêncio pertence à nossa
linguagem de consolação, porque se transforma num gesto concreto de partilha e
participação no sofrimento do irmão.
14. Num momento particular
como o nosso que, entre muitas crises, regista também a da família, é
importante fazer chegar uma palavra de força consoladora às nossas famílias. O
dom do matrimónio é uma grande vocação, que se há de viver, com a graça de
Cristo, no amor generoso, fiel e paciente. A beleza da família permanece
inalterada, apesar de tantas sombras e propostas alternativas: «a alegria do
amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja».[17] A senda da vida
que leva um homem e uma mulher a encontrarem-se, amarem-se e prometerem
reciprocamente, diante de Deus, uma fidelidade para sempre, é muitas vezes
interrompida pelo sofrimento, a traição e a solidão. A alegria pelo dom dos
filhos não está imune das preocupações sentidas pelos pais com o seu
crescimento e formação, com um futuro digno de ser vivido intensamente.
A graça do sacramento do Matrimónio não só fortalece a família,
para que seja o lugar privilegiado onde se vive a misericórdia, mas também
compromete a comunidade cristã e toda a atividade pastoral para pôr em realce o
grande valor propositivo da família. Por isso, este Ano Jubilar não pode perder
de vista a complexidade da realidade familiar atual. A experiência da
misericórdia torna-nos capazes de encarar todas as dificuldades humanas com a
atitude do amor de Deus, que não Se cansa de acolher e acompanhar.[18]
Não podemos esquecer que cada um traz consigo a riqueza e o peso
da sua própria história, que nos distingue de qualquer outra pessoa. A nossa
vida, com as suas alegrias e os seus sofrimentos, é algo único e irrepetível
que se desenrola sob o olhar misericordioso de Deus. Isto requer, sobretudo por
parte do sacerdote, um discernimento espiritual atento, profundo e
clarividente, para que toda a pessoa sem exceção, em qualquer situação que
viva, possa sentir-se concretamente acolhida por Deus, participar ativamente na
vida da comunidade e estar inserida naquele Povo de Deus que incansavelmente
caminha para a plenitude do reino de Deus, reino de justiça, de amor, de perdão
e de misericórdia.
15. Reveste-se de particular
importância o momento da morte. A Igreja viveu sempre esta dramática passagem à
luz da ressurreição de Jesus Cristo, que abriu a estrada para a certeza da vida
futura. Temos aqui um grande desafio a abraçar, sobretudo na cultura
contemporânea que, muitas vezes, tende a banalizar a morte até reduzi-la a
simples ficção ou a ocultá-la. Ao contrário, a morte há de ser enfrentada e
preparada como uma passagem que, embora dolorosa e inevitável, é cheia de
sentido: o ato extremo de amor para com as pessoas que se deixam e para com
Deus a cujo encontro se vai. Em todas as religiões, o momento da morte – como
aliás o do nascimento – é acompanhado por uma presença religiosa. Nós vivemos a
experiência das exéquias como uma oração cheia de esperança para a alma da
pessoa falecida e para dar consolação àqueles que sofrem a separação da pessoa
amada.
Estou convencido de que há necessidade, na pastoral animada por
uma fé viva, de tornar palpável como os sinais litúrgicos e as nossas orações
são expressão da misericórdia do Senhor. É Ele próprio que oferece palavras de
esperança, porque nada nem ninguém poderá separar-nos jamais do seu amor (cf.
Rm 8, 35.38-39). A partilha deste momento pelo sacerdote é um acompanhamento
importante, porque lhe permite viver a proximidade à comunidade cristã no
momento de fraqueza, solidão, incerteza e pranto.
16. Termina o Jubileu e
fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece
sempre aberta de par em par. Aprendemos que Deus Se inclina sobre nós (cf. Os
11, 4), para que também nós possamos imitá-Lo inclinando-nos sobre os irmãos. A
saudade que muitos sentem de regressar à casa do Pai, que aguarda a sua
chegada, é suscitada também por testemunhas sinceras e generosas da ternura
divina. A Porta Santa, que cruzamos neste Ano Jubilar, introduziu-nos no
caminho da caridade, que somos chamados a percorrer todos os dias com
fidelidade e alegria. É a estrada da misericórdia que torna possível encontrar
tantos irmãos e irmãs que estendem a mão para que alguém a possa agarrar a fim
de caminharem juntos.
Querer estar perto de Cristo exige fazer-se próximo dos irmãos,
porque nada é mais agradável ao Pai do que um sinal concreto de misericórdia.
Por sua própria natureza, a misericórdia torna-se visível e palpável numa ação
concreta e dinâmica. Uma vez que se experimentou a misericórdia em toda a sua
verdade, nunca mais se volta atrás: cresce continuamente e transforma a vida.
É, na verdade, uma nova criação que faz um coração novo, capaz de amar
plenamente, e purifica os olhos para reconhecerem as necessidades mais ocultas.
Como são verdadeiras as palavras com que a Igreja reza na Vigília Pascal,
depois da leitura da narração da criação: «Senhor nosso Deus, que de modo
admirável criastes o homem e de modo mais admirável o redimistes…»![19]
A misericórdia renova e redime, porque é o encontro de dois
corações: o de Deus que vem ao encontro do coração do homem. Este inflama-se e
o primeiro cura-o: o coração de pedra fica transformado em coração de carne
(cf. Ez 36, 26), capaz de amar, não obstante o seu pecado. Nisto se nota que
somos verdadeiramente uma «nova criação» (Gal 6, 15): sou amado, logo existo;
estou perdoado, por conseguinte renasço para uma vida nova; fui
«misericordiado» e, consequentemente, feito instrumento da misericórdia.
17. Durante o Ano Santo,
especialmente nas «sextas-feiras da misericórdia», pude verificar concretamente
a grande quantidade de bem que existe no mundo. Com frequência, não é conhecido
porque se realiza diariamente de forma discreta e silenciosa. Embora não façam
notícia, existem muitos sinais concretos de bondade e ternura para com os mais
humildes e indefesos, os que vivem mais sozinhos e abandonados. Há verdadeiros
protagonistas da caridade, que não deixam faltar a solidariedade aos mais
pobres e infelizes. Agradecemos ao Senhor por estes dons preciosos, que
convidam a descobrir a alegria de aproximar-se da humanidade ferida. Com
gratidão, penso nos inúmeros voluntários que diariamente dedicam o seu tempo a
manifestar a presença e proximidade de Deus com a sua entrega. O seu serviço é
uma genuína obra de misericórdia, que ajuda muitas pessoas a aproximar-se da
Igreja.
18. É a hora de dar espaço à
imaginação a propósito da misericórdia para dar vida a muitas obras novas,
fruto da graça. A Igreja precisa de narrar hoje aqueles «muitos outros sinais»
que Jesus realizou e que «não estão escritos» (Jo 20, 30), de modo que sejam
expressão eloquente da fecundidade do amor de Cristo e da comunidade que vive
d’Ele. Já se passaram mais de dois mil anos, e todavia as obras de misericórdia
continuam a tornar visível a bondade de Deus.
Ainda hoje populações inteiras padecem a fome e a sede, sendo
grande a preocupação suscitada pelas imagens de crianças que não têm nada para
se alimentar. Multidões de pessoas continuam a emigrar dum país para outro à
procura de alimento, trabalho, casa e paz. A doença, nas suas várias formas, é
um motivo permanente de aflição que requer ajuda, consolação e apoio. Os
estabelecimentos prisionais são lugares onde muitas vezes, à pena restritiva da
liberdade, se juntam transtornos por vezes graves devido às condições desumanas
de vida. O analfabetismo ainda é muito difuso, impedindo aos meninos e meninas
de se formarem, expondo-os a novas formas de escravidão. A cultura do
individualismo exacerbado, sobretudo no Ocidente, leva a perder o sentido de
solidariedade e responsabilidade para com os outros. O próprio Deus continua a
ser hoje um desconhecido para muitos; isto constitui a maior pobreza e o maior
obstáculo para o reconhecimento da dignidade inviolável da vida humana.
Em suma, as obras de misericórdia corporal e espiritual
constituem até aos nossos dias a verificação da grande e positiva incidência da
misericórdia como valor social. Com efeito, esta impele a arregaçar as mangas
para restituir dignidade a milhões de pessoas que são nossos irmãos e irmãs,
chamados connosco a construir uma «cidade fiável».[20]
19. Muitos sinais concretos
de misericórdia foram realizados durante este Ano Santo. Comunidades, famílias
e indivíduos crentes redescobriram a alegria da partilha e a beleza da
solidariedade. Mas não basta. O mundo continua a gerar novas formas de pobreza
espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas. É por isso que
a Igreja deve permanecer vigilante e pronta para individuar novas obras de
misericórdia e implementá-las com generosidade e entusiasmo.
Assim, ponhamos todo o esforço em dar formas concretas à caridade
e, ao mesmo tempo, entender melhor as obras de misericórdia. Com efeito, esta
possui um efeito inclusivo pelo que tende a difundir-se como uma nódoa de
azeite e não conhece limites. E, neste sentido, somos chamados a dar um novo
rosto às obras de misericórdia que conhecemos desde sempre. De facto a
misericórdia extravasa; vai sempre mais além, é fecunda. É como o fermento que
faz levedar a massa (cf. Mt 13, 33), e como o grão de mostarda que se
transforma numa árvore (cf. Lc 13, 19).
A título de exemplo, basta pensar na obra de misericórdia
corporal vestir quem está nu (cf. Mt 25, 36.38.43.44). A mesma nos reconduz aos
primórdios, ao jardim do Éden, quando Adão e Eva descobriram que estavam nus e,
ouvindo aproximar-Se o Senhor, tiveram vergonha e esconderam-se (cf. Gn 3,
7-8). Sabemos que o Senhor castigou-os; no entanto, Ele «fez a Adão e à sua
mulher túnicas de peles e vestiu-os» (Gn 3, 21). A vergonha é superada e a
dignidade restituída.
Fixemos o olhar também em Jesus no Gólgota. Na cruz, o Filho de
Deus está nu; a sua túnica foi sorteada e levada pelos soldados (cf. Jo 19,
23-24); Ele não tem mais nada. Na cruz, manifesta-se ao máximo a partilha de
Jesus com as pessoas que perderam a dignidade, por terem sido privadas do
necessário. Assim como a Igreja é chamada a ser a «túnica de Cristo»[21] para
revestir o seu Senhor, assim também ela se comprometeu a tornar-se solidária
com os nus da terra a fim de recuperarem a dignidade de que foram despojados.
Assim as palavras de Jesus – «estava nu e destes-me que vestir» (Mt 25, 36) –
obrigam-nos a não desviar o olhar das novas formas de pobreza e marginalização
que impedem às pessoas de viverem com dignidade.
Não ter trabalho nem receber um salário justo, não poder ter uma
casa ou uma terra onde habitar, ser discriminados pela fé, a raça, a posição
social... estas e muitas outras são condições que atentam contra a dignidade da
pessoa; frente a elas, a ação misericordiosa dos cristãos responde, antes de
mais nada, com a vigilância e a solidariedade. Hoje são tantas as situações em
que podemos restituir dignidade às pessoas, consentindo-lhes uma vida humana.
Basta pensar em tantos meninos e meninas que sofrem violências de vários tipos,
que lhes roubam a alegria da vida. Os seus rostos tristes e desorientados
permanecem impressos na minha mente; pedem a nossa ajuda para serem libertados
da escravidão do mundo contemporâneo. Estas crianças são os jovens de amanhã;
como estamos a prepará-las para viverem com dignidade e responsabilidade? Com
que esperança podem elas enfrentar o seu presente e o seu futuro?
O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes
mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos
não fiquem letra morta. Que o Espírito Santo nos ajude a estar sempre prontos a
prestar de forma efetiva e desinteressada a nossa contribuição, para que a
justiça e uma vida digna não permaneçam meras palavras de circunstância, mas
sejam o compromisso concreto de quem pretende testemunhar a presença do Reino
de Deus.
20. Somos chamados a fazer
crescer uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com
os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem
vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos. As obras de misericórdia são
«artesanais»: nenhuma delas é cópia da outra; as nossas mãos podem moldá-las de
mil modos e, embora seja único o Deus que as inspira e única a «matéria» de que
são feitas, ou seja, a própria misericórdia, cada uma adquire uma forma
distinta.
Com efeito, as obras de misericórdia, tocam toda a vida duma
pessoa. Por isso, temos possibilidade de criar uma verdadeira revolução
cultural precisamente a partir da simplicidade de gestos que podem alcançar o
corpo e o espírito, isto é, a vida das pessoas. É um compromisso que a
comunidade cristã pode assumir, na certeza de que a Palavra do Senhor não cessa
de a chamar para sair da indiferença e do individualismo em que somos tentados
a fechar-nos levando uma existência cómoda e sem problemas. «Os pobres, sempre
os tendes convosco» (Jo 12, 8): disse Jesus aos seus discípulos. Não há
desculpa que possa justificar a incúria, quando sabemos que Ele Se identificou
com cada um deles.
A cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura
dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na
solidariedade concreta para com os pobres. É um convite premente para não se
equivocar onde é determinante comprometer-se. A tentação de se limitar a fazer
a «teoria da misericórdia» é superada na medida em que esta se faz vida diária
de participação e partilha. Aliás, nunca devemos esquecer as palavras com que o
apóstolo Paulo – ao contar o encontro depois da sua conversão com Pedro, Tiago
e João – põe em realce um aspeto essencial da sua missão e de toda a vida
cristã: «Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei
fazer com o maior empenho» (Gal 2, 10). Não podemos esquecer-nos dos pobres:
trata-se dum convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua
evidência evangélica.
21. Que a experiência do
Jubileu imprima em nós estas palavras do apóstolo Pedro: outrora «não tínheis
alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» (1 Ped 2, 10). Não
guardemos ciosamente só para nós tudo o que recebemos; saibamos partilhá-lo com
os irmãos atribulados, para que sejam sustentados pela força da misericórdia do
Pai. As nossas comunidades abram-se para alcançar a todas as pessoas que vivem
no seu território, para que chegue a todas a carícia de Deus através do
testemunho dos crentes.
Este é o tempo da misericórdia. Cada dia da nossa caminhada é
marcado pela presença de Deus, que guia os nossos passos com a força da graça
que o Espírito infunde no coração para o plasmar e torná-lo capaz de amar. É o
tempo da misericórdia para todos e cada um, para que ninguém possa pensar que é
alheio à proximidade de Deus e à força da sua ternura. É o tempo da
misericórdia para que quantos se sentem fracos e indefesos, afastados e
sozinhos possam individuar a presença de irmãos e irmãs que os sustentam nas
suas necessidades. É o tempo da misericórdia para que os pobres sintam pousado
sobre si o olhar respeitoso mas atento daqueles que, vencida a indiferença,
descobrem o essencial da vida. É o tempo da misericórdia para que cada pecador
não se canse de pedir perdão e sentir a mão do Pai, que sempre acolhe e abraça.
À luz do «Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente», celebrado
quando já se iam fechando as Portas da Misericórdia em todas as catedrais e
santuários do mundo, intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo
extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo
do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres. Será a mais digna preparação para bem
viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se
identificou com os mais pequenos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras
de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46). Será um Dia que vai ajudar as comunidades e
cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar
consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro
jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21). Além disso este Dia constituirá
uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o
rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da
misericórdia.
22. Sobre nós permanecem
pousados os olhos misericordiosos da Santa Mãe de Deus. Ela é a primeira que
abre a procissão e nos acompanha no testemunho do amor. A Mãe da Misericórdia
reúne a todos sob a proteção do seu manto, como A quis frequentemente
representar a arte. Confiemos na sua ajuda materna e sigamos a indicação perene
que nos dá de olhar para Jesus, rosto radiante da misericórdia de Deus.
Dado em Roma, junto de São Pedro, em 20 de novembro – Solenidade
de Cristo Rei – do Ano do Senhor de 2016, quarto do meu pontificado.
FRANCISCO
[1] In Johannis 33, 5.
[2] HERMAS, O Pastor, 42, 1-4.
[3] Cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 27.
[4] Missal Romano, III Domingo da Quaresma.
[5] Ibid., Prefácio VII dos Domingos do Tempo Comum.
[6] Ibid., Oração Eucarística IV.
[7] Ibid., Oração Eucarística II.
[8] Ibid., Ritos da Comunhão.
[9] Ritual da Penitência, n. 46.
[10] Ritual da Unção dos Enfermos, n. 76.
[11] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. Sacrosanctum
Concilium, 106.
[12] Idem, Const. dogm. Dei Verbum, 2.
[13] Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 142.
[14] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 86-87.
[15] Cf. Carta pela qual se concede a indulgência por ocasião do
Jubileu da Misericórdia, 1 de setembro de 2015.
[16] Cf. ibidem.
[17] Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Amoris laetitia, 1.
[18] Cf. ibid., 291-300.
[19] Missal Romano, Vigília Pascal, Oração depois da Primeira
Leitura.
[20] Bento XVI, Carta enc. Lumen fidei, 50.
[21] Cipriano, A unidade da Igreja Católica, 7.
sábado, 19 de novembro de 2016
terça-feira, 15 de novembro de 2016
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quinta-feira, 29 de setembro de 2016
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Sucessão Apostólica do Padre Ney Oliveira na Igreja Ortodoxa.
IGREJA ORTODOXA BIELORUSSA ESLAVA
(Igreja Catholica Apostólica Orthodoxa de Rito Bizantino)
(Igreja Catholica Apostólica Orthodoxa de Rito Bizantino)
His Eminence +ATHANASIOS
- Metropolitan Archbishop and Patriarchal Vicar (Brazil)
His Eminence +VALERIAN -
Metropolitan of Argentina - AOCC Vicar Apostolic for Argentina (Argentina)
His Eminence +JACOB
(Brazil)
His Eminence +NAGUI
(Brazil)
His Grace +MARCUS
(Brazil)
His Grace +JORGE
(Brazil)
His Grace +FRANCK
(France)
His Grace +HENRY
(Poland)
His Grace +CELSO
(Brazil)
His Grace +FERNANDO (Italy)
His Grace +FERNAO (Portugal)
His Grace +ENRIGUS (Venzuela)*
His Grace +JON (Venzuela)*
His Grace +ALEXIS (Venzuela)*
V. Rev. Fr. Franc Primozic - Archimandrite (Argentina)
V. Rev. Fr. Mario Baciotti - Archimandrite (Italy)
V. Rev. Fr. Giovanni Podigue - Archimandrite (Italy)
V. Rev. Fr. Giovanni Ferrando - Archimandrite (Italy)
V. Rev. Fr. Vernal Michael Jones - Archimandrite (Canada)
V. Rev. Fr. Cesar Moscoso - Archimandrite (Ecuador)
V. Rev. Fr. Lucas Rocco
- Archimandrite Giacalone (Italy)
Rev. Fr. Juan Paul King Horan
(Argentina)
Rev. Fr. Juan Manuel Garayalde (Argentina)
Rev. Fr. Mario Reynoso (Argentina)
Rev. Fr. Edelmiro Valdez (Argentina)
Rev. Fr. Alexander
Galvao War (Brazil)
Rev. Fr. Victor Rodriguez (Brazil)
Rev. Fr. Eugenio
Rev. Fr. Simon
Rev. Protodeacon Moacyr Rother Neto (Brazil)
Rev. Protodeacon Fabiano Silva Ferreira (Brazil)
Rev. Protodeacon Ney Oliveira (Brazil)
Rev. Hierodeacon Felipe Jose Pereira Silva (Brazil)
Rev. Deacon Mario Frientes (Argentina)
Rev. Deacon Felipe Pereira (Brazil)
Rev. Protodeacon Ney Oliveira transferiu-se canonicamente ao Arcebispado Vétero-Católico de Curitiba, Brasil:
1.Dom Dom Teófilo
Barnick; 2.Dom (Jam) Iam Piotr Perkowiski; 3.Dom Lírio do Prado Fontes; 4.Dom
Helio Del Bivar; 5.Dom Heitor Figueira de Carvalho; 6.Dom Paolo Reale; 7.Dom
Wanderley Gonçalves de Almeida (ord.1976 por Arcebispo James F. A . Lashley);
8.Dom Rafael Linueza Peres (ord.1977 por Bispo Wanderley Gonçalves de Almeida);
9.Dom José Carlos Teodoro; 10.Dom Paulo Pereira.
*A Sucessão Apostólica
de Dom Paulo Pereira, vem da Old Catholic Church – EUA, através de Dom Jas F. A
Lashley, (Primaz – EUA), que Sagrou Dom Wanderley Gonçalves de Almeida, que
Sagrou Dom Rafael Linueza Peres, que Sagrou Dom José Carlos Teodoro, que Sagrou
Dom Paulo Pereira, que Sagrou Dom Paulo Nunes, que Sagrou Dom Ademir Achilles.
† Presbítero: Reverendo
Padre Ney Oliveira: ordenado sacerdote Vétero Católico por Dom Paulo Nunes e
Dom Ademir Achilles, em Curitiba, aos 20 dias do mês de dezembro do ano da
graça de 2009.
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