domingo, 22 de maio de 2016

Casa com trilhos de trem, um pouco da histórica de São Paulo.

http://www.saopauloantiga.com.br/casadostrilhos/


Se fôssemos julgar aqui a história de uma casa pela sua arquitetura, provavelmente passaríamos batido por esta pequena casa antiga, de 1938, que está localizada no número 228 da rua Vera Cruz, no bairro da Penha.
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Afinal, a casa está escondida por um muro alto, é bem simples, não tem grandes adornos e nem nada demais em sua arquitetura. Porém, um único detalhe despertou a curiosidade aqui do blog, e acabamos descobrindo que trata-se de um imóvel com uma história bastante interessante: A inscrição M.A 1938 na fachada.
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Ao notar a inscrição, resolvi observá-la mais de perto e olhei pelo muro, e também pela cerca de madeira, no limite da residência com a pequena travessa ao lado e descobri uma coisa fantástica: O quintal da casa tem trilhos ferroviários!
Para entender o motivo da casa ter trilhos no quintal, vamos voltar no tempo um pouco e conhecer a história de um extinto ramal ferroviário e sua velha estação, que até a grande maioria dos moradores do bairro desconhecem: A antiga Estação da Penha.
clique sobre o mapa para amplia-lo
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A antiga e extinta Estação da Penha não tem nenhuma relação com a atual estação do metrô. A estação ficava localizada um pouco mais acima, na parte alta do bairro, já bem próxima da igreja antiga da Penha. Fundada em 1886, a estação era oriunda de um pequeno desvio ferroviário localizado alguns metros depois da Estação Guaiaúna(depois renomeada Carlos de Campos) e operou por décadas como o único sistema de transporte coletivo ligando a região central da cidade até este bairro. Os trens saiam da Estação do Norte (atual Brás e ex-Roosevelt) e iam até a Estação Penha, sendo que esta foi a primeira linha de trens de subúrbio da Cidade de São Paulo.
Esta é a única foto conhecida da extinta Estação Penha, tirada em 1905.
Com a chegada do serviço de bondes e as consequentes melhorias viárias feitas na Avenida da Intendência (atual Celso Garcia) o hábito de tomar o trem para ir ao centro da capital foi caindo em desuso, já que a grande maioria das pessoas preferiam se locomover usando os bondes. Com isso entre 1910 e 1920 a importância desta estação foi diminuindo até que foi completamente desativada. Em 1924 ela já não constava mais nos guias ferroviários, como o Guia Levy.
Mesmo assim, a estação continuou por lá em pé por vários anos sendo que ocasionalmente em dias de romaria para a Igreja da Penha, haviam trens que especialmente na ocasião seguiam até lá. Alguns anos mais tarde a estação foi demolida e boa parte deste ramal teve seus trilhos removidos, sendo realizada a urbanização do trecho, gerando as ruas Irapucara e General Sócrates. No entanto, na altura da rua Vera Cruz o ramal continuaria existindo até meados dos anos 1950 sendo usada para fins de transporte de gado, quando então foi finalmente desativada, demolida e seus trilhos entre a estação da Penha e a linha retirados. Mas não todos…
A Casa Misteriosa e a inscrição M.A 1938:
Quando houve a primeira remoção de trilhos com a consequente desativação da Estação da Penha o governo federal construiu esta casa, inaugurando-a em 1938, sendo que no local foi instalado um posto avançado do Ministério da Agricultura.
Ali, embarcava-se o gado que era criado na região próxima do Córrego Tiquatira onde hoje está localizada a Avenida Governador Carvalho Pinto. Este gado subia em direção ao centro da Penha e descia até a casa em questão descendo pela rua Betari e dali embarcavam e rumavam aos abatedouros. Até hoje, moradores mais antigos do bairro lembram-se desta travessia de gado pelas suas ruas.
Com o desenvolvimento da região, tornou-se impossível manter este tráfego animal pelas ruas da Penha e a atividade cessou-se. Com isso, o posto avançado do Ministério da Agricultura foi desativado e o que restava deste velho ramal ferroviário foi completamente extinto, tendo seus trilhos removidos, cessando de vez a história deste ramal.
A rua Irapucara, no passado era uma linha de trem (clique para ampliar).
A rua Irapucara, no passado era uma linha de trem (clique para ampliar).
No entanto, quando foram remover os trilhos da área não removeram parte deles que ficavam na área desta casa, já que ela não pertencia a Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) e sim ao Ministério da Agricultura. A casa aparentemente foi esquecida, junto com seus trilhos e a pequena plataforma que permanecem até hoje no seu terreno, no que hoje tornou-se o quintal da residência. As árvores ao redor da área cresceram tanto que é quase impossível notar a existência dos trilhos a partir do nível da rua.
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Observe os trilhos passando pelo quintal da casa (clique na foto para ampliar).
Com isso, a simpática casa da rua Vera Cruz deve ser a única casa de São Paulo com trilhos em seu quintal. Curioso, não ? Segundo relatos de vizinhos, até hoje o imóvel pertence à União e seus moradores seriam caseiros (informação não confirmada).
Veja mais fotos desta casa e dos trilhos no quintal (clique para ampliar):
Foto: Douglas Nascimento
Foto: Douglas Nascimento
Foto: Douglas Nascimento
Foto: Douglas Nascimento
Saiba mais detalhes sobre este extinto ramal ferroviário no site Estações Ferroviárias, de Ralph Giesbrecht:
Conheça a área através do mapa:

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